Análise da carteira de investimentos Bizz Invest
Declaração: O conteúdo deste artigo não configura nenhuma recomendação de investimento tratando-se apenas de um estudo.
Olá amigos do blog,
Nos últimos “quase 2 anos” de existência deste blog falamos sobre diversos tipos de investimentos de todo o perfil de risco e também abordamos diversas estratégias de acumulação de ações, investimentos em produtos de renda-fixa e alocação de ativos.
Realmente é bastante informação mas você já pensou em como juntar tudo isso numa carteira de investimentos e medir sua performance contra os principais índices de nossa economia? Ou seja, como isso funciona na prática?
Bem, ao longo de 2014 resolvi documentar toda a performance da minha carteira de investimentos de uma forma que eu pudesse passar de uma forma didática ao leitor.
Desse processo pode-se tirar valiosas lições.
Sem muita criatividade apelidei essa carteira de “Carteira Bizz Invest” e sim, ela é uma carteira de verdade com objetivos de longo prazo visando a obtenção da independência e segurança financeira.
Não vou citar os valores monetários dessa carteira, focando o conteúdo mais em percentuais de alocação e rentabilidade.
Ativos da carteira Bizz Invest
Antes de mostrar os resultados vamos falar um pouco sobre os ativos e sua alocação na carteira de investimentos. Os ativos que compõe (ou compuseram) a carteira são:
Ações
A carteira de ações é composta de ações de empresas listadas no Ibovespa em sua maioria empresas bem administradas que apresentam resultados operacionais positivos consistentes quando não crescentes.
São empresas de diversos setores (consumo, energia, mineração, bancos, construtoras e saúde), boas pagadoras de dividendos e com bom histórico de governança e relacionamento com investidores.
Basicamente procuro empresas, que, em suas ações buscam maximizar o valor para o acionista mesmo que, devido a circunstâncias macroeconômicas e impactos da economia global, não venham a mostrar bons resultados no curto prazo.
Reservo de 5 a 10% da carteira de ações para investir em “micro-caps” (empresas pequenas) mas com bom potencial de valorização.
Títulos Indexados a SELIC
Basicamente são títulos públicos LFT , ainda que, surgindo uma boa oportunidade, possa incluir LCIs, LCAs ou CDBs na carteira. Durante o ano tive a oportunidade de investir em uma LCI que trouxe bons resultados.
Títulos Pré-Fixados
Basicamente títulos públicos LTN e NTN com diferentes vencimentos. Eu chamo a aplicação nesses títulos da “aplicação da sobra”. Durante o ano, quando recebo um dividendo ou juros pequeno, fica uma “sobra” pequena de caixa. Geralmente compro titulos LTN com essa sobra pois a partir de 70 reais você já pode comprar um título. As vezes, é melhor comprar uma fração de título público do que comprar 1 ou 2 ações e pagar uma corretagem significativa. Depois, com mais recursos, pode-se investir em ações diluindo assim a corretagem.
Títulos Indexados a Inflação
Basicamente NTN-B e NTN-B principal com diferentes vencimentos (2019 e 2035) a depender do momento. Também incluí nessa cesta debêntures da Vale.
Fundos Imobiliários
Me agrada investir em fundos imobiliários pelo conceito de “diluição de risco”, veja, se eu tivesse um apartamento alugado e o inquilino “saísse” do apartamento esse investimento passaria a gerar “saída” de caixa no curto prazo pois teria que arcar com despesas de condomínio e IPTU. Então vejo com bons olhos os investimentos em fundos imobiliários. Mas temos que ter cuidado, procuro investir em fundos que tenha um gestor reconhecido e que seja bem diversificado em sua carteira de imóveis. A boa notícia é que novidades estão para vir este ano na área de educação financeira voltada para investimento em fundos imobiliários.
Dólar
Meus investimentos em dólar foram através de um fundo cambial. Apesar desta não ser a melhor solução foi bem melhor do que não fazer nenhum investimento nessa categoria.
Percentuais de alocação de ativos:
No começo do ano tracei uma meta de percentual de alocação, é importante traçar essa meta para poder fazer o correto rebalanceamento da carteira de investimentos. A carteira Bizz Invest tinha o seguinte objetivo:
Ações: 35%
Selic: 25%
Renda-Fixa: 10%
Inflação: 15%
Fundos Imobiliários – FII: 10%
Dólar: 5%
Como todo mês eu aplico um montante nessa carteira o equilíbrio da mesma era feita sem venda de ativos e sim usando os recursos “novos”. Ou seja, durante uma alta da bolsa o “novo” dinheiro ia para renda-fixa enquanto uma queda da bolsa gerava uma compra de ações como o “novo” recurso. Isso se chama equilibrar a carteira de investimentos através de aportes mensais bem explanado no e-book alocação de ativos.
Segue abaixo os percentuais reais de alocação da carteira Bizz Invest.
Desafios da alocação
Como podemos ver foi bastante difícil ficar exatamente na meta, mas, salvo algumas exceções (como uma oportunidade de investir em LCI e a demora em compor a carteira de dólar), os resultados ficaram razoavelmente perto da meta.
Chama a atenção na alocação a queda brusca do percentual de Fundos Imobiliários na carteira de investimentos durante o ano, todo, Inflação e Renda-Fixa tiveram suas participações reduzidas mas em menor escala que os FIIs. Os FIIs foram a grande decepção da carteira no ano de 2014. Isso pode ser explicado basicamente pelo ciclo de alta da taxa básica de juros (SELIC) que derrubou os preços desses ativos. No final do ano consegui equilibrar a carteira de FIIs mas ainda falta equilibrar a carteira de inflação.
Também houve uma aproximação, no mês de maio, das alocações de SELIC e ações, isso aconteceu porque, justamente em maio, houve uma oportunidade de aquisição de uma LCI com baixo investimento para o curto prazo. Some esta oportunidade ao velho ditado da bolsa de valores “Sell in May and go away” – “Venda em maio e saia de férias”. Assim sendo, nesse mês praticamente não foi investido nada em ações e grande maioria dos recursos foi investida nesta LCI.
O cenário nebuloso de nossa economia com a incerteza eleitoral gerou um alta volatilidade na bolsa e no dólar, então, no mês de agosto houve uma alta expressiva da bolsa e uma queda do dólar o que preparou o terreno para a entrada do dólar na carteira. A decisão se mostrou acertada e a carteira se recuperou “compensando” os FIIs.
Rentabilidade da carteira
Há algumas maneiras de calcular a rentabilidade anual da carteira de investimentos, por se tratar de uma carteira com patrimônio em movimento não há uma maneira consensual e definitiva de se avaliar a performance.
Metodologia adotada para apurar a rentabilidade da carteira Bizz Invest
Optei pelo seguinte método para avaliar a performance da carteira. A rentabilidade da carteira é dada pela seguinte formula:
1) Rentabilidade da Carteira = Rendimento / Saldo Médio do Investimento Ponderado pelo tempo em carteira
O rendimento é relativamente simples de se calcular e é dado pela seguinte formula:
1.1) Rendimento = Saldo em 31/12/2014 – Saldo em 31/12/2013 – Valor Investido em 2014
Note que o valor investido é o quanto de fato saiu da sua conta correte bancária rumo às aplicações. Num linguajar contábil é como falar “Saída de Caixa”.
O denominador da formula (1) é o que é mais difícil de se conceituar para evitar distorções. Chamei-o de “Saldo Médio do Investimento Ponderado pelo Tempo em Carteira” , ficou um pouco grande o nome mas é melhor assim para que se possa tentar explicar melhor este conceito.
Antes de começar devemos pensar cada aporte que fazemos em nossa carteira de investimentos como um investimento único. Então se, por exemplo, todo mês, você adquire R$ 1000,00 de títulos públicos, na verdade, em uma ano sua carteira terá 12 investimentos de R$ 1000,00 em títulos públicos. A diferença é que cada investimento tem um “tempo” diferente.
Neste exemplo o seu investimento em janeiro rendeu durante 12 meses, o de fevereiro 11 meses e assim por diante.
Também temos que entender o conceito de Saldo de Investimento que dependerá do saldo do início do período de apuração mais os valores aplicados (suas “saídas” de caixa).
Para simplificar vou usar como base uma apuração de rentabilidade anual com aportes mensais que foi exatamente o que aconteceu na carteira Bizz Invest, no entanto, nada impede que se aplique outros prazos (rentabilidade mensal com aportes diários por exemplo).
O ideal, para apurar uma rentabilidade de forma correta é fazer seus aportes sempre no inicio ou fim do período, neste caso os aportes forma no início ou fim do mês. Para simplificar vamos assumir aportes no fim do mês.
Assim sendo temos os seguintes saldos de investimento ao longo do ano.
Saldo de Investimento em Janeiro = Saldo da sua carteira no início do ano
Saldo de Investimento em Fevereiro = Saldo de Investimento em Janeiro + Valor Investido no Fim de Janeiro
Saldo de Investimento em Março = Saldo de Investimento em Fevereiro + Valor Investido no Fim de Fevereiro
Saldo de Investimento em Abril = Saldo de Investimento em Março + Valor Investido no Fim de Março
Saldo de Investimento em Maio = Saldo de Investimento em Abril + Valor Investido no Fim de Abril
Saldo de Investimento em Junho = Saldo de Investimento em Maio + Valor Investido no Fim de Maio
Saldo de Investimento em Julho = Saldo de Investimento em Junho + Valor Investido no Fim de Junho
Saldo de Investimento em Agosto = Saldo de Investimento em Julho + Valor Investido no Fim de Julho
Saldo de Investimento em Setembro = Saldo de Investimento em Agosto + Valor Investido no Fim de Agosto
Saldo de Investimento em Outubro = Saldo de Investimento em Setembro + Valor Investido no Fim de Setembro
Saldo de Investimento em Novembro = Saldo de Investimento em Outubro + Valor Investido no Fim de Outubro
Saldo de Investimento em Dezembro = Saldo de Investimento em Novembro + Valor Investido no Fim de Novembro
É importante ressaltar que esses são saldos de investimento e não os seus saldos da carteira já que o segundo já contempla eventuais rendimentos.
Agora que já sabemos calcular o Saldo de Investimento podemos finalmente calcular o Saldo Médio do Investimento Ponderado pelo Tempo em Carteira. Vamos calculá-lo nos utilizando do princípio de que cada saldo rendeu durante um tempo distinto, ou seja, o Saldo de Investimento em Janeiro rendeu 12 meses, o de fevereiro 11, o de março 10 e ai por diante. A formula fica assim:
Saldo Médio do Investimento Ponderado pelo tempo em carteira =
[(Saldo de Investimento Janeiro x 12) + (Saldo de Investimento Fevereiro x 11) + (Saldo de Investimento em Março x 10) +(Saldo de Investimento em Abril x 9) + (Saldo de Investimento em Maio x 8) + (Saldo de Investimento em Junho x 7) +(Saldo de Investimento em Julho x 6) + (Saldo de Investimento em Agosto x 5) + (Saldo de Investimento em Setembro x 4) + (Saldo de Investimento em Outubro x 3) + (Saldo de Investimento em Novembro x 2) + (Saldo de Investimento em Dezembro x 1)] / [12+11+10+9+8+7+6+5+4+3+2+1]
Essa formula evita distorções quando se efetua grandes aportes na carteira (especialmente no fim do ano), assim sendo, uma média simples iria distorcer o valor sendo que esse “novo” aporte nem teve tempo de render.
Exemplo: Suponha uma carteira que começou o ano com R$ 10.000,00 e se investiu mensalmente R$ 1000,00 sendo que no início de dezembro foi feito um aporte extra de R$ 10.000,00. Desconsiderando os rendimentos, vamos ver os saldos mensais (considero sempre os saldos do início do mês) deste exemplo:
Jan – R$ 10.000,00
Fev – R$ 11.000,00
Mar – R$ 12.000,00
Abr – R$ 13.000,00
Mai – R$ 14.000,00
Jun – R$ 15.000,00
Jul – R$ 16.000,00
Ago – R$ 17.000,00
Set – R$ 18.000,00
Out – R$ 19.000,00
Nov – R$ 20.000,00
Dez – R$ 30.000,00
Se fizermos uma média aritmética simples o saldo médio será de:
R$ 10.000,00 + R$ 11.000,00 + … + R$ 20.000,00 + R$ 30.000,00 /12 = R$ 16.250,00
Agora se fizermos uma média ponderada pelo tempo temos:
(R$ 11.000,00 x 12) + (R$ 12.000,00 x 11) + … + (R$ 21.000,00 * 2) + (R$ 31.000,00 x 1) /(12 + 11 + … + 2 + 1) = R$ 13.782,05
Ainda que a média aritmética mostre uma situação mais realista do seu patrimônio, a média ponderada responde a seguinte pergunta:
Qual saldo dessa carteira rendeu o equivalente 12 meses que é o período que estamos apurando?
Criei uma planilha para você poder aplicar a formula acima e verificar o resultado de suas carteiras, clique aqui para baixar.
Rentabilidade da Carteira Bizz Invest
Utilizando esta metodologia, o resultado da carteira Bizz Invest no ano foi de 8,4%
Para efeitos de comparação o CDI (que é o indexador mais utilizado para investimentos livres de risco) no anos de 2014 foi de 10,8%, assim sendo a carteira Bizz Invest rendeu o equivalente a 77,8% do CDI.
Vamos comprar com outros índices para ver onde a carteira Bizz Invest se situou.
CDI: 10,8%
Inflação: 6,40%
Poupança: 7,02%
Carteira Bizz Invest: 8,4%
Dólar: 12,55%
Ibovespa: -2,9%
IFIX (fundos imobiliários): -2,7%
Conclusão
Esse resultado, ainda que competitivo em relação a alguns fundos de investimentos de bancos e planos de previdência privada, a carteira de investimentos deixou muito a desejar.
É claro que com a bolsa andando de lado e os fundos imobiliários minguando (especialmente por conta da alta da taxa de juros e o nosso cenário macroeconômico e político) o resultado não iria ser muito animador já que os dois juntos foram responsáveis por quase metade da carteira.
Por outro lado estratégias como rebalanceamento da carteira e compra de títulos públicos no tempo certo ajudaram a carteira a ficar no lucro.
Finalmente devemos lembrar que essa carteira é para o longo prazo e que, na verdade, esse ano foi de ótimas oportunidades de adquirir ativos interessantes a preços descontados.
Mas a principal lição se chama “investimento constante”. Investir um pouco todo mês abre as portas para excelentes oportunidades de investimento, dinheiro em caixa constantemente na sua conta de investimentos é a chave para aproveitar as oportunidades quando elas surgem.
No próximo artigo vamos analisar a performance de cada classe de ativos e mostrar o que deu e o que não deu certo nessa carteira. Assim tiramos as lições aprendidas que, na minha opinião, são “ativos” mais importantes da criação e auto gestão da sua própria carteira.
Um forte abraço!
Christian
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