Se você é um investidor em ações no longo prazo tipo “Buy and Hold”, em tese, não deveria se preocupar com os preços no momento que vai comprar.
Já mostrei em artigos antigos o poder da acumulação de ações independente do preço.
Com o fim de fazer grandes aportes, ou, tendo capital limitado para operações é sempre interessante escolher ações boas que estão num bom momento de compra, ou seja, estão baratas.
A pergunta de 1 milhão de dólares é: como saber se uma ação está barata? Olhando o gráfico?
A resposta é negativa.
Em primeiro lugar o gráfico nos mostra a movimentação dos preços, e, assim sendo, um papel pode ter caído 80% e, mesmo assim, estar “caro”, assim como pode ter subido 100% e ainda estar barato.
Existem diversos métodos de avaliação que mostram se uma empresa está cara ou barata. É a arte do “Valuation”.
Precificar uma empresa é complicado. É necessário analisar o balanço (geração de caixa, lucros e outros indicadores), e o próprio negócio da empresa (posicionamento, concorrentes, cenários micreconômicos e macroeconômicos, etc.).
Antes que fique desanimado eu quero, trazer uma boa notícia.
O objetivo deste artigo é falar de um simples indicador que vai lhe ajudar muito a ganhar tempo filtrando algumas empresas e reduzindo em muito o seu tempo de análise. Hoje você irá aprender:
- Qual indicador é esse que é um dos mais populares do mercado;
- Os filtros que devem ser aplicados e um exemplo de filtragem;
- As exceções ao uso deste indicar e cuidados;
- Um ativo que este indicador nunca aprovou e que subiu 100 vezes da mínima.
- Conclusão
#1 – Que Indicador é Esse?
Estamos falando do indicador chamado Preço/Lucro (ou P/L). É, sem sobra de dúvida, o indicador mais popular da Análise Fundamentalista, muito pela facilidade de compreensão.
Veja, ao investirmos em uma empresa, queremos uma que nos dê o maior lucro possível pelo menor preço possível.
É justamente, em tese, o que o indicador Preço/Lucro quer nos mostrar.
O que torna interessante este indicador, é o fato de ser composto por duas variáveis com comportamentos temporais distintos.
O preço de uma determinada empresa varia diariamente como pode ser visto nas cotações da bolsa de valores.
Isso ocorre devido a inúmeros fatores, por exemplo, um fundo ou grande investidor tem que sair de uma grande posição comprada para cobrir um “rombo” do outro lado ou um saque de um cotista.
O lucro da empresa só é atualizado a cada 3 meses, por conseguinte, variações bruscas nos lucros de determinadas empresas podem levar anos para se concretizarem.
Isso tudo faz com que o indicador P/L sofra distorções e assimetrias podendo gerar grandes oportunidades.
Exemplo:
A empresa de saneamento básico do Paraná (Sanepar), tem um P/L de 6,8 (Fonte: Guiainvest)
Isso significa, de uma forma bem simplista, que um investidor levaria 6,8 anos para recuperar o valor investido nesta empresa apenas com os lucros.
Reflita aqui por alguns segundos em quais negócios, em que uma eventual participação sua seja “passiva” (não tem que botar a mão na massa), lhe daria este tipo retorno. São muitos negócios? Poucos?
#2 – Os filtros que devem ser aplicados.
Agora que sabemos o conceito do P/L, como podemos determinar se é caro ou barato?
Benjamin Graham no livro “O investidor inteligente” determinou as seguintes faixas:
- Abaixo de 10: Barato
- De 10 a 20: Normal
- Acima de 20: Caro
É importante ressaltar que o P/L nunca pode ser negativo, em outras palavras, isso significaria que a empresa está tendo prejuízo e não lucro já que o preço de uma ação não pode ser menor que zero.
Com isso já podemos fazer uma filtragem básica com explico no vídeo abaixo.
#3 – Críticas e Variações ao Modelo.
Esse modelo simplista é objeto de várias críticas e refinamentos que veremos a seguir.
O Lucro, por si só, não é um bom parâmetro. Lembremos do conceito de P/L que, é quantos anos levaremos para recuperar o investimento.
Como salienta Alexandre Póvoa no seu ótimo livro Valuation – Como Precificar Ações devemos utilizar outras variáveis como o Fluxo de Caixa para o Acionista que é um número mais próximo do dividendo que a empresa pode pagar.
O Fluxo de Caixa para o Acionista irá variar muito a depender do ciclo de vida da empresa.
Primeiramente, uma empresa em fase de crescimento terá esse número menor (às vezes até negativo).
Finalmente, numa fase de perpetuidade, o Fluxo de caixa par ao acionista tende a se aproximar do Lucro Contábil. Segundo Póvoa, O P/L justo deveria ser calculado considerando essas duas fases.
O Setor da empresa faz toda a diferença.
Olhando isoladamente para o indicador P/L da Sanepar temos o seu valor em 6,8. (Fonte: Guiainvest).
Sem dúvida, trata-se de um valor baixo segundo a cartilha de Benjamin Graham.
Entretanto, como estão seus “pares”?
Empresas de utilities (concessionárias de energia elétrica e saneamento básico) tem crescimento limitado, por conseguinte, pouca necessidade de investimento. Devido a isso é natural que tenha P/L baixos. Vamos olhar os indicadores da Sanepar e seus “Pares”.
- P/L Setor Saneamento
- Sanepar – 6,8
- Sabesp – 24,7
- Copasa – 7,1
Percebemos que a Sanepar está bem posicionada em relação aos seus “pares”
O P/L mostra o presente, mas, o futuro pode ser sombrio.
A Eternit, fabricantes de materiais de construção (especialmente telhas e caixas d’água), há alguns anos, se mostrava bem barata pelo P/L.. Inegavelmente, o futuro da empresa se mostrava sombrio.
Em suma, uma das principais matérias-primas da empresa, o amianto, iria ser banido pelas autoridades sobretudo pelos problemas de saúde que gerava em seu manuseio.
Haveria a necessidade de polpudos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento para atualizar a tecnologia e mudar a matéria-prima.
Isso, certamente reduziria o lucro da empresa nos próximos anos.
Para piorar, a empresa não lidou bem com a situação. Num primeiro momento tentou “brigar” para manter a produção com amianto. Isso, somado a investimentos que se mostraram equivocados e problemas de governança, quase “matou” a empresa.
O preço das ações caiu de uma faixa de R$ 17 a 20 nos anos de 2012 a 2014 para R$ 1,80 em 2019.
Mas… A Eternit Virou o Jogo.
O P/L da Eternit estava positivo novamente em junho de 2020 com as ações valendo R$ 3,60. Um investidor que tivesse observado isso poderia estudar mais a fundo a empresa tomando ciência que a mesma passou a lucrar novamente sem o uso da matéria-prima problemática.
Outrossim, o preço da ação da empresa está em R$ 14,42, ou seja, em um curto espaço de tempo, 300% de valorização!
#4 – A empresa que valorizou mais de 800 vezes e o P/L nunca autorizaria uma compra.
Vimos no exemplo anterior que uma análise do P/L pode nos garantir ganhos polpudos na bolsa.
Por outro lado, há determinadas ações que o P/L nunca falará que está barata.
Decerto vamos analisar a Magazine Luíza que atualmente apresenta um P/L de 115 o que torna praticamente inviável o investimento nesta empresa por este indicador.
Em tese levaríamos 115 anos para recuperar o investimento nesta empresa, mais que uma vida inteira!
Na prática, a história é outra.
Se você tivesse investido na Magazine Luíza no início do ano já teria recuperado o investimento somente com a valorização da ação.
O mais impressionante é que o indicador P/L nunca deu uma oportunidade de compra em Magazine Luíza.
Primeiro, em meados de 2015, a empresa apresentava prejuízos em seu balanço o que tiraria ela dos filtros.
Finalmente, quando “virou o jogo” e apresentou lucros o P/L já estava muito alto, pois as ações haviam subido muito.
No final das contas, a ação multiplicou seu valor por 800 desde a mínima de dezembro de 2015 sem que o P/L apontasse uma única oportunidade de compra.
Isso é parcialmente explicado por outra metodologia chamada Growth Investing que explico sucintamente neste artigo.
Além das premissas do Growth Investing, os investidores estão apostando numa virada (turnaround) e posterior crescimento da empresa. Naturalmente os riscos de apostar nessa tese são maiores. São hipóteses para o futuro, porém, quando acertadas trazem retornos espetaculares.
Recentemente uma concorrente da Magazine Luíza, a Via Varejo também teve uma virada. Isso levou o preço de suas ações de R$ 4,00 para R$ 20, um aumento de 400%.
#5 Conclusão
O indicador Preço/Lucro é interessante para encontrar assimetrias e, consequentemente, “barganhas”.
Apesar de nos tomar a atenção, está longe de ser um indicador infalível.
Devemos juntá-lo com outros dados para uma análise mais precisa.
Por fim devemos também olhar para possibilidades de turnaround das empresas onde os ganhos podem se multiplicar.
Uma última dica, para pesquisar rapidamente e descobrir que ações estão com P/L atrativo confira a ferramenta Guiainvest.
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