Introdução
Quem já assistiu aquele programa de TV chamado “Os Caçadores de Mitos” (Mythbusters)? Este artigo vai ter um pouco de “Caça ao Mito” com relação a carros. Em inúmeras rodas de bar, reuniões familiares, festas, etc… ao se falar em carros, volta e meia nos deparamos com a seguinte pergunta “De quanto em quanto tempo devemos trocar de carro?”. No artigo de hoje iremos aprender:
– Se alguns mitos sobre troca de veículos são realmente verdadeiros;
– Como se calcula o “custo” anual de um veículo;
– Simulação de dois veículos (popular e médio) de nossa indústria.
Argumentos pela trocas de veículo
Os defensores de trocas constantes de carro (3 anos é o tempo máximo para ficar com o veículo) tem os seguintes argumentos para defender a troca.
1) Após 3 anos o veículo desvaloriza muito. O argumento é que fica difícil comprar um novo pois o seu carro já não vale tanto e você vai precisar de muito dinheiro para “inteirar” um carro novo.
Minha Análise: Vamos mostrar abaixo as despesas globais de um carro novo com cenários de trocas a cada 1, 3, 5 e 7 anos. O fato dos carros atuais serem atualizados com maior frequência pode favorecer o argumento acima.
2) Carro velho quebra muito. O argumento é que toda hora tem que trocar uma peça aumentando o risco de o conduto “ficar a pé” e perder tempo.
Minha Análise: Confesso que esse argumento é forte e subjetivo, mas se você cumpriu rigorosamente o plano de manutenção do carro as chances do mesmo quebrar são menores, fazer uma manutenção periódica e preventiva do carro gasta pouco tempo. Eventualmente será necessária a substituição de peças por desgaste (como pastilhas de freio, pneus, amortecedores) mas o custo dessas peças é bastante inferior ao de um carro novo. Lembre-se que aqui sempre se analisa tudo sob a ótica da percepção de valor, e, o seu carro “velho”, mas em bom estado de conservação, certamente gera um valor muito próximo senão igual a um carro novo que demandará um investimento financeiro.
Quanto o risco de “ficar a pé” ele existe de fato. Conheço amigos que ficaram meses sem carro por causa de quebra. Só que são casos isolados e, pasmem, muitos ocorreram nos primeiros anos de vida do carro. O carro é um agrupamento de milhares de peças e, apesar de construído sob rigorosos processos de montagem e com boa verificação de qualidade, pode ser que algo de errado aconteça. Se depois de um tempo não ocorreu nada grave com o carro a tendência é que se tenha apenas problemas com desgaste de peças. Em situações “normais” não se perderá mais que uma semana por ano com manutenções e, neste breve período, pode-se utilizar um transporte alternativo.
3) Carro velho faz barulho. Além disso cheira mal e está com uma aparência de que está “caindo aos pedaços”.
Minha Análise: Remete ao item anterior que é a manutenção. Confesso que é difícil, geralmente as pessoas não tem tempo para cuidar do carro, fazer uma lavagem mais completa, um polimento, etc…. Além disso o “cheirinho” de carro novo é atraente, a montadoras inclusive contratam especialistas para garantirem que o “cheiro” esteja adequado aos anseios dos consumidores.
Como pudemos ver a questão da manutenção é importantíssima e voltaremos a ela mais a frente. Vamos focar agora em verificar se os itens acima fazem sentido.
Como medir as despesas de um carro
A seguir elencamos as diversas despesas que se tem ao possuir um carro. As despesas “diretas” ou de nível 1 são as que exigem, ao longo do ciclo de vida do carro, dispêndio financeiro, ou seja, tem que obrigatoriamente “tirar do bolso”. As despesas “indiretas” ou de nível 2 são aquelas que não saem do seu bolso mas impactam seu patrimônio.
Gasolina: A despesa básica, sem gasolina o carro não anda. Para simplificar assumiremos a premissa de uso de gasolina e que roda na cidade. Assumiremos que o carro popular tem consumo de 10 km/l e o médio 8 km/l.
Manutenção: Durante o período de garantia do carro, a manutenção periódica na rede autorizada (creio que isso seja questionável na justiça mas não creio que valha a pena) é obrigatória sob a pena da perda da mesma. Os custos dessa manutenção eram altíssimos a ponto de, as vezes, ser melhor abdicar da garantia do carro ao gastar uma fortuna. Felizmente as montadoras e suas redes autorizadas se conscientizaram disso e agora já mostram aos clientes os valores do plano de manutenção (que ficaram menores) antes mesmo da aquisição do carro. As manutenções são por tempo (geralmente de ano em ano) ou por quilometragem (de 10 em 10 mil quilômetros rodados). Dependendo da cidade onde você mora pode ser necessário a inclusão de outras manutenções em períodos mais curtos (como alinhamento e balanceamento). De qualquer forma, após o período de garantia a melhor opção é levar seu carro para uma oficina de confiança. Para efeitos de nosso estudo assumiremos as seguintes premissas.
– A troca de óleo será feito nas manutenções periódicas;
– Alinhamento e Balanceamento feito a cada 5000 km;
– Para simplificar usaremos carros que tenham plano de manutenção com valores dados pela montadora.
Estacionamento/Pedágios: É bastante difícil estimar uma despesa de estacionamento, vamos partir da premissa que quento mais se utiliza o carro, mais estacionamento/pedágio se paga. Vamos assumir uma despesa de R$ 0,40 por km rodado o que daria uma despesa mensal de R$ 333,00.
Impostos: Dependendo do estado, se paga mais ou menos IPVA (imposto sobre propriedade automotiva), assumiremos 4% sobre o valor do carro.
Seguro: Há um seguro obrigatório que se paga ao renovar a licença anual, mas ele não cobre danos nos carros ou roubos. O seguro tradicional geralmente vem com cobertura para roubo, furto, incêndio e colisão (cobrindo o seu e o carro do terceiro). Apesar de um bom número de pessoas estarem abdicando do seguro devido ao alto preço e pouco benefício, utilizei a premissa de que temos seguro.
Há uma grande diferença de valores entre diversas seguradoras e entre os tipos de carro. Carros populares tendem a ter seguros com percentual maior em relação ao valor do carro do que os luxuosos. Utilizei um valor médio no estudo obtido desta reportagem na revista exame.
Asseio: Todo mundo lava o carro. Como a maioria das pessoas não tem como lavar o carro sozinha muito por falta de espaço consideremos que a maioria leva o carro num lava-jato ou entrega para o porteiro lavar. Uma despesa mensal de R$ 75,00 (anual de R$ 900,00) é considerado bastante razoável para efeitos de nosso estudo.
Despesas Nível 2
Depreciação: Eu não sou especialista em contabilidade mas depreciação é o nome contábil que se dá a desvalorização do seu bem ao longo do tempo, nas empresas a depreciação é contabilizada como despesa, assim sendo, devemos considerar a desvalorização anual do seu carro como uma despesa. Teoricamente é tido, na grande maioria dos carros, que a maior parte da desvalorização ocorre justamente nos primeiros 3 anos, o que ocorre então é que justamente após este “mega” período de desvalorização resolve-se trocar de carro iniciando novamente um ciclo de alta desvalorização.
Custo de Oportunidade: Se o dinheiro empregado na compra e/ou na troca do carro fosse mantido numa aplicação de baixo risco como poupança ou um fundo DI quanto esse dinheiro renderia? Esse valor que “renderia” vamos jogar como despesa utilizando o valor de 5% ano como custo de oportunidade para nossos estudos.
“Seguro” contra quebra de peças: E se uma peça do carro quebrar após a garantia? Uma peça “quebrar” sem motivo algum é diferente de uma peça “quebrar” devido ao fator desgaste (neste caso a peça já deveria ter sido trocada de acordo com o plano de manutenção do carro). Exemplo: Eu tive um carro em que a bomba de combustível quebrou aos 30.000 km sem nenhum motivo para o ocorrido, foi falha na peça mesmo, como o carro estava na garantia a peça foi trocada sem custo nenhum para mim. Assim sendo, podemos incluir também uma despesa adicional que seria uma espécie de uma espécie de “seguro” contra quebra de peças após a garantia.
Não há valor “cientificamente” preciso para essa despesa. Para chegar nesse valor temos que utilizar algumas premissas a seguir:
– O valor máximo do prejuízo de uma quebra de peça durante o período que o carro vai ficar em sua posse após a garantia é de R$ 5000,00.
– Um valor razoável de percentual médio de um seguro de carro em relação ao seu valor é de 5%. Podemos então utilizar este valor para nosso “seguro de peças”.
Concluindo temos então R$ 5000,00 x 5% = R$ 250,00 que será nossa despesa anual para o “seguro”, duplicaremos esse valor para o cenário de maior uso do carro (20.000 km/ano)
Cenários de despesas globais com carros
Utilizaremos os cenários abaixo para efetuar as simulações pretendidas.
Obs1: Os resultados apresentados abaixo são apenas para fins de estudo e não representam a situação real, além disso os custos de depreciação são históricos, ou seja, não há garantia que os resultados ocorridos no passado se reflitam no futuro, inclusive tivemos que fazer um ajuste na depreciação do Corolla pois houve um ano (o da atualização do carro) que gerou uma depreciação bem acima da média. Ou seja, tive que ajustar o valor da depreciação no ano da atualização em todos os cenários. No caso do Fiesta as atualizações não geraram desvalorizações significativas.
Obs2: Você poderá se perguntar porque, no estudo, não está incluído o valor gasto (no momento de uma troca) para a aquisição do novo carro (dado que foi oferecido o usado atual na troca). Isso é porque o valor citado é equivalente a soma das “depreciações” desde o primeiro ano de vida do novo carro até o ano da troca e, para efeitos de cálculos matemáticos seria uma dupla contagem.
Cenário 1: Baixo/Médio uso do veículo (10.000 km/ano)
Fiesta
Corolla
Cenário 2: Alto uso do veículo (20.000 km/ano)
Fiesta
Corolla
Conclusões do Estudo
Nós seres humanos somos dotados de “crenças” e para confirmá-las ou desmenti-las devemos fazer pesquisas/estudos/experimentos. Qual era a minha “crença” antes de escrever este artigo? Que a economia que se fazia ao postergar a troca de um carro era bem grande, no entanto, após efetuar os estudos percebi que demorar muito para trocar o carro não traz muitas vantagens. Isso significa que podemos/devemos trocar de carro todo ano? Não! Mas descobrimos que podemos planejar a próxima troca e otimizar nossos custos. Então vamos as conclusões do estudo.
1) O resultado mais significativo do estudo foram as despesas globais com carro, seguem os menores valores:
– Fiesta: R$ 173.697,88 em 10 anos para baixa utilização (10.000 km/ano) e trocas a cada 7 anos;
– Fiesta: R$ 252.442,62 em 10 anos para alta utilização (20.000 km/ano) e trocas a cada 7 anos;
– Corolla: R$ 267.044,44 em 10 anos para baixa utilização (10.000 km/ano) e trocas a cada 5 anos;
– Corolla: R$ 345.837,07 em 10 anos para alta utilização (20.000 km/ano) e trocas a cada 5 anos;
O resultado sugere que o foco não deve ser na troca constante ou não do veículo e sim se devemos possuir ou não um veículo.
2) Trocar de carro todo ano em um carro de baixa utilização (10.000 km/ano) gera custos significativamente maiores:
– Para o Fiesta – R$ 17.453,34 ou 10,05% a mais de despesa em relação ao cenário menos custoso (troca a cada 7 anos).
– Para o Corolla – R$ 33.010,39 ou 12,36% a mais de despesa em relação ao cenário menos custoso (troca a cada 5 anos).
No entanto se você utiliza muito o carro (20.000 km/ano) a troca anual não gera custos significativamente maiores
– Para o Fiesta – R$ 8.708,60 ou 3,335% a mais de despesa em relação ao cenário menos custoso (troca a cada 7 anos).
– Para o Corolla – R$ 22.057,20 ou 6% a mais de despesa em relação ao cenário menos custoso (troca a cada 5 anos).
3) Os demais prazos de troca (3,5 e 7 anos) não apresentam diferenças significativas de custo entre si especialmente de o uso do carro é extensivo (20.000 km/ano);
4) Os gastos correntes (Estacionamento, Pedágio, Gasolina) são bem mais significativos que os demais. Como são maiores há boas oportunidades de redução seja via comprando um carro mais econômico ou utilizando os serviços de um estacionamento mensal se você perceber que vai com muita frequência a lugar.
5) Cada montadora tem um “cycle plan” diferente, ou seja, um planejamento de atualização de seus produtos, isso inclusive pode variar entre marcas de carro dentro de uma mesma montadora. Por exemplo: A Ford está sempre atualizado seus carros de 2 em 2 anos, mudando um farol, um para-choque, um revestimento interior enquanto a Toyota geralmente leva mais tempo para atualizar seus carros e, quando ocorre, o faz de forma significativa. As consequências das diferentes estratégia de cada montadora são as seguintes:
– No caso do Fiesta, a desvalorização média foi de R$ 1539,00 (ou 5,31% em relação ao valor de um carro novo) por ano com um desvio de 50%, o Fiesta, em sua versão mais simples (não estou falando do novo Fiesta que, apesar de levar o mesmo nome, é um outro carro) teve 2 atualizações significativas nos últimos 10 anos;
– No caso do Corolla a desvalorização média foi de R$ 4142,00 (ou 6,68% em relação ao valor de um carro novo) por ano com um desvio de 66% (muito por conta de uma expressiva desvalorização de R$ 9887,00 no ano de sua única atualização significativa nos últimos 10 anos).
6) Os resultados apresentados podem variar de montadora para montadora e de modelo para modelo.
Considerações Finais e uma dica importante
Confesso que fiquei tão insatisfeito com o resultado do estudo que quase cheguei a jogar este artigo fora mas vou publicá-lo mesmo assim pois entendo que ele dá importantes lições. A primeira é que antes de pensar em trocar de carro devemos pensar se realmente vale a pena possuir de fato um carro. A segunda é que, mesmo possuindo um carro, podemos economizar muito dinheiro utilizando o carro com parcimônia. Utilizando menos o carro economizamos gasolina, estacionamento, pedágio e peças gerando um custo significativamente menor. Além disso podemos enfim trocá-lo com menos frequência gerando um custo menor (mesmo que este seja menos significativo que os demais custos).
Comprar o “carro” certo influencia
Muitas vezes trocamos de carro com frequência maior porque não ficamos satisfeitos com o carro que compramos, o carro simplesmente não atendia nossas necessidades e isso pode gerar um prejuízo de milhares de reais no longo prazo.
Recentemente li um e-book que além de ajudar você a escolher o melhor carro para sua necessidade dá ótimas dicas de mantenção do mesmo. Isso pode se transformar em milhares de reais de economia ao longo do tempo.
Achei ótimo, um investimento pequeno que gera um valor absurdo. Confira o e-book “Tudo Que Você Precisa Saber Sobre Carros” escrito por Gustavo Fernandes , tenho certeza que você vai Adorar!
APRENDA TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE CARROS >>>>
Clique aqui para receber a planilha que criei abaixo para fazer este estudo e outros conteúdos exclusivos!
Um Abraço!
Christian
Riko Assumpção diz
Mto legal o artigo, Christian! Parabens pelo trabalho… tenho um blog de finanças tbm, o henriquecer.com e há 2 meses tbm escrevi sobre o assunto http://henriquecer.com/2014/01/21/quanto-custa-ter-um-carro/
Abraços!
Bizz Invest diz
Obrigado pelo elogio Riko! Parabéns pelo blog!
Um Abraço!
Christian
Daniel Machado diz
Olá Christian, muto bom seu estudo. Sera que poderia disponibilizar essa planilha que calculou os gastos? Desde ja obrigado. Meu email é bydann@gmail.com
Bizz Invest diz
Mandei para você! Obrigado pelo elogio!
Um Abraço!
Christian
Daniel Machado diz
Olá Christian, muto bom seu estudo. Sera que poderia disponibilizar essa planilha que calculou os gastos? Desde ja obrigado. Meu email é bydann@gmail.com
Daniel Pedreira diz
Excelente artigo, assim como outros artigos. Parabéns.
Bizz Invest diz
Obrigado pelo elogio!
Um Abraço!
Christian
Hellynthon diz
“3) Carro velho faz barulho. Além disso cheira mal e está com uma aparência de que está “caindo aos pedaços”.”
Isso depende muito. Na questão de “barulho” já vi um Fiat 147 tão silencioso quanto um carro zero (muito bem cuidado e manutenções sempre em dia). Também já vi outros carros “velhos” mais barulhentos do que moto velha de motoboy. Em alguns casos, o “barulho” é o charme do carro, afinal, quem é que não gosta de ouvir um som de um V8.
Agora “velho” ou “caindo aos pedaços”?? Isso depende de quão zeloso o proprietário é. Além disso, alguns carros “velhos” podem valer e muito. Por exemplo, meu vizinho tem um Ford Maverick 1973 GT muito bem cuidado e está avaliado em R$150.000,00.
Bizz Invest diz
Olá Hellynthon!
Obrigado pelo cometário. Concordo plenamente. Os argumentos dos defesnsores de trocas constantes é justamente que carros velhos cheiram mal e podem te deixar na mão. Minha opinião, assim como a sua é que com uma manutenção correta você pode ficar com um carro durante muitos e muitos anos. Infelizmente a maior parte das pessoas, ao invés de promover uma manutenção e zelo correto preferem simplesmente trocar de carro.
Um Abraço,
Christian