Finanças Comportamentais – Introdução
Já ouviu falar de Finanças Comportamentais? Independente da resposta é um assunto que você vai querer entender melhor.
Todo o mundo, em algum momento da vida, já teve alguma inquietude financeira. Desde a pessoa que está afundada em dívidas até aquela que vai receber um dinheiro extra e não sabe o que fazer com ele.
Já sabemos também que a causa raiz de todos os problemas financeiros está na região escondida acima de nossos olhos e dentro de nosso crânio, o nosso cérebro.
Cientificamente já foi comprovado que podemos programar o nosso cérebro para a criação de riqueza (veja aqui).
Durante a transformação rumo a uma mente programada para o enriquecimento, percebemos uma grande mudança, a do nosso comportamento em relação ao dinheiro.
Como nos comportamos em relação a cada detalhe que envolve este sagrado e limitado recurso faz uma enorme diferença na busca pela independência financeira.
Saber antecipar e entender os desafios que serão lançados ao nosso cérebro diante de qualquer situação é meio caminho andado para tomarmos a melhor decisão financeira.
As pessoas que nos oferecem produtos que não precisamos (desde um carro novo até uma assessoria de investimentos para um dinheiro que você não têm) já estudaram o que será colocado neste artigo e por isso têm a vantagem no processo de venda.
Então chegou a hora de “retomarmos a dianteira”! Vamos entender como o nosso cérebro funciona em relação à tomada de decisões e demais desafios, isso se chama Finanças Comportamentais.
Aprendendo com um ganhador do prêmio Nobel
Para entender e falar de Finanças Comportamentais nada como ir atrás de um dos maiores especialistas do assunto, o ganhador do prêmio Nobel de economia em 2002, Daniel Kahneman.
Kahneman é professor emérito de psicologia da Universidade de Princeton, cujos estudos e conclusões, muitos deles baseados na observação de centenas de pessoas comuns, levaram a fantásticas descobertas sobre o comportamento humano.
Este artigo lhe trará importantes insights acerca de como a nossa mente trabalha e toma decisões. Ele teve como principal fonte de informação o best seller de Kahneman “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar”.
Recomendo fortemente que, se tiver o tempo, leia este livro. Confesso, não é uma leitura simples e você será desafiado. Por isso recomendo que você leia, preferencialmente, num lugar tranquilo e pela manhã.
Voltando ao nosso artigo hoje vamos aprender:
- Como funcionam (e impactam nas decisões financeiras) os dois lados do cérebro;
- Os momentos adequados para se tomar decisões financeiras;
- Como a sua memória impacta uma decisão financeira;
- Como o ambiente que você está influencia seu comportamento;
- Como a busca incessante de motivos ou padrões afeta nossos investimentos;
- Como fazemos pré-julgamentos e os mesmos impactam nossas decisões.
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Finanças Comportamentais – Os lados do cérebro
Estudar o funcionamento do cérebro é fundamental para diversas carreiras, especialmente, a de um um vendedor.
Centenas de livros como A Arte da persuasão mostram, com demonstrações de resultados empíricos, como o comportamento humano pode ser influenciado.
Entender o comportamento humano dá uma certa vantagem ao vendedor. Então é natural que o mesmo entendimento também dê uma vantagem ao comprador equilibrando as forças da negociação.
Mais importante que o citado acima é entender, num exato momento, o seu comportamento. Ter essa consciência é fundamental para sua tomada de decisão.
Modelo Tradicional – 3 Cérebros
O modelo tradicional, amplamente estudado, cita 3 partes relevantes do cérebro.
O Cérebros reptiliano e Mamífero
Primeiro temos o cérebro reptiliano que nos acompanha desde a pré-história, é o nosso núcleo máximo de sobrevivência e que nos avisa dos perigos eminentes.
Resumindo, se estiver na selva e se deparar com um leão, esse cérebro iria mandar você “correr”.
Analogamente, esse mesmo cérebro procura rechaçar qualquer “lixo” que vendedores possam tentar te empurrar.
Quando o pessoal do telemarketing daquela empresa de telefonia ou TV a cabo entra em contato, você logo fica na vontade de desligar imediatamente o telefone.
Se o seu cérebro reptiliano for forte, você vai desligar.
A segunda parte do cérebro é o mamífero (sistema límbico), que é responsável pelas emoções e sentimentos. Ele, na verdade, é o principal responsável por uma tomada de decisão.
De uma forma resumida, o cérebro mamífero usa associações e memória para disparar o que chamamos de “circuito da recompensa”, liberando um neurotransmissor chamado dopamina e gerando uma sensação de prazer que não tem preço (e é ai que está o perigo).
Vamos supor que você esteja numa concessionária vendo um carro novo. A sensação de encostar num banco novo, o “cheiro”, enfim, essas características podem levar a excelentes memórias (pode ser da época que ganhou ou comprou o seu primeiro automóvel). Para muitos ter essa sensação de novo não tem preço.
Por outro lado, se um determinado produto ou serviço estiver associado a uma memória ruim, dificilmente o seu cérebro mamífero irá ser convencido novamente.
Análise Comportamental – O experimento dos macacos
Este vídeo que retrata a história de um experimento feito com macacos nos explica muitas coisas sobre comportamento do cérebro mamífero.
Resumindo:
– 5 macacos foram colocados numa jaula com uma escada e um cacho de bananas em cima.
– Quando o primeiro macaco foi comer as bananas os outros 4 tomaram uma ducha de água fria. Um segundo macaco foi tentar comer as bananas e foi parado pelos outros 4.
– Mesmo substituindo os macacos por outros que não haviam tomado a ducha fria, o padrão de comportamento se repetia.
Das inúmeras lições que este vídeo nos dá, a que vamos abstrair para entender o funcionamento do cérebro “mamífero” é que, em um primeiro momento, os macacos associaram a ação de pegar uma banana com uma recompensa “ruim”, tomar um jato de água gelada.
Essa experiência gerou um trauma tão grande que, mesmo depois da inclusão de macacos que não haviam tomado a ducha fria, o comportamento continuou.
Um exemplo pessoal seria minha experiência com companhias telefônicas. Tive um plano de celular que me gerou muitos transtornos. Isso foi há uns 10 anos.
Até hoje quando essa empresa me liga com uma oferta irresistível, eu refuto na hora. Pode ser que tenha se tornado a melhor de seu segmento, mas a memória “ruim” ainda está no meu cérebro mamífero.
Aprender a dominar o cérebro mamífero é uma das principais virtudes de uma pessoa que tem um “bom” comportamento financeiro.
O Cérebro racional – Cortex e Neo Cortex
Finalmente tomos o cortex (e neo cortex), o cérebro responsável pelas decisões racionais, pelos cálculos e pela ponderação.
É sobretudo no cortex que somos diferenciados dos outros mamíferos.
No experimento acima, um macaco com orctex bem desenvolvido iria questionar os outros 4 sobre o “não” buscar bananas.
No exemplo da compra do carro, o cortex irá determinar a melhor maneira de adquirí-lo, se á vista ou parcelado, se o orçamento comporta, se o custo-benefício é bom, etc.
Finalmente, no caso do celular, o cortex poderia verificar se os serviços da companhia telefônica problemática melhoraram.
A questão central das finanças comportamentais está no equilíbrio de forças entre nosso cérebro mamífero e o cortex.
Ao deixar o cérebro mamífero dominar as ações em busca de recompensas rápidas, é bem provável que você venha a ter sérios problemas financeiros.
Por outro lado, se você deixa o cortex dominar suas ações possivelmente suas finanças estão em ordem mas você pode estar sem qualidade de vida.
É o velho dilema: “Você vive para trabalhar ou trabalha para viver?”.
Tem uma história contada pelo coach Paulo Vieira muito interessante que irei adaptar para este artigo.
Era uma vez um executivo que trabalhava 14, 16 horas por dia, e ganhava muito bem.
Tinha um enorme apartamento, carros, casa de praia, lancha, motorista, etc.
A família viajava para o exterior 2 vezes por ano (ele ia apenas uma vez).
O executivo, apesar do sucesso, vivia endividado e, consequentemente, estressado por conta disso.
Para suprir a falta de tempo com os filhos os presenteava frequentemente.
Como vivia endividado, o executivo não tinha poupança, o que poderia ser um desastre no caso de uma eventual demissão.
Esse executivo tinha um motorista, que trabalhava sem férias (por opção) há mais de 20 anos, vivia numa casa modesta e seus filhos estudavam em escola pública. Não os provia de nada, além do estritamente necessário.
Além disso, não tirava férias com a família. Com todo centavo que juntava, ele comprava um terreno em sua cidade do interior e construía uma casa, depois construía outra, em seguida mais uma…
No total, já tinha 15 casas que rendiam aluguel para ele. Como essa renda extra, já poderia colocar os filhos em uma escola melhor e até se dar o luxo de tirar umas merecidas férias. Talvez nem precisasse trabalhar na carga horária que estava sujeito.
A pergunta é? Quem é mais rico, o executivo e o motorista?
Durante muito tempo responderia, sem piscar os olhos, que o motorista era mais rico. Se fôssemos analisar exclusivamente sob a ótica do fluxo de caixa isso seria verdade.
Mas a resposta correta é que nenhum dos dois pode ser considerado rico. Os dois tem sérios problemas de finanças comportamentais.
A visão de Kahneman – Os dois lados
Kahneman divide o nosso cérebro em dois lados, o lado 1 e o lado 2. O primeiro é um cérebro mais criativo, intuitivo e emocional e o segundo seria um mais analítico.
Em seu livro “Rápido e Devagar”, Kahneman não faz uma explícita relação entre os três cérebros citados acima (reptiliano, mamífero e cortex) e os dois lados.
Para simplificar, poderíamos, numa análise superficial, dizer que o lado 1 conteria os cérebros reptiliano e mamífero e o 2 seria o cortex.
Então podemos inferir que uma pessoa com bom equilíbrio entre os lados 1 e 2 tem um bom comportamento financeiro.
A partir de agora vamos nos concentrar em destrinchar o lado 1 e lado 2 do cérebro com excelentes dicas que podem lhe ajudar em qualquer processo decisório (especialmente os que envolvem dinheiro).
Finanças Comportamentais – Nunca tome uma decisão financeira com a cabeça “cheia”
A cabeça “cheia”, estressada , ou preocupada leva ao que chamamos de “estado de esgotamento cognitivo”.
Se você é forçado a tomar uma decisão “esgotado cognitivamente” provavelmente é o seu lado intuitivo e emocional que ditará as regras.
O psicólogo e trader famoso Alexander Elder autor do livro “Aprenda A Operar no mercado de ações, um guia completo para o trading” preconiza que um trader profissional não deve nem ligar a tela do computador se tiver tido um dia “ruim” e esteja triste, frustrado ou angustiado.
Num estado de “esgotamento cognitivo” não temos condição de tomar decisões “frias” e “racionais” e corremos alto risco de perder dinheiro.
Falamos especificamente do trading de ações mas isso poderia ser aplicado a outras ações como ir a Shopping Center fazer comprar ou comprar um carro. Evite fazer essas coisas se a sua cabeça não estiver em “paz”.
A meditação é uma das maiores aliadas para que você possa sair do estado de “esgotamento cognitivo” liberando espaço (sobretudo no lado 2) para a tomada de decisões racionais.
Finanças Comportamentais – Cuidado com o cérebro “preguiçoso”
As vezes nosso lado 2 do cérebro não está esgotado, mas com “preguiça”, ao se deparar com uma tomada de decisão quer se livrar logo do problema e pergunta para o lado 1 “o que ele acha”.
Novamente estamos deixando de lado uma decisão racional e tomando um decisão intuitiva.
O nosso sucesso, em linhas gerais, está em nossa capacidade de autocontrole e autodisciplina. A maioria de nós está em usa de recompensas rápidas.
O famoso vídeo do marshmallow exemplifica bem este comportamento humano.
Resumindo, foi ofertado 2 opções para um grupo de crianças, um marshmallow para consumo imediato, ou dois marshmallows se a criança esperasse 15 min sem comer o primeiro.
O resultado foi que dois terços das crianças optaram pela recompensa rápida (1 marshmallow).
Além disso, essas crianças foram acompanhadas no futuro, e, coincidentemente, as que conseguiram “segurar o ímpeto” se tornaram pessoas mais bem sucedidas do que o grupo que “não aguentou” e comeu o primeiro marshmallow.
Podemos fazer uma analogia. Quando se trata de investir dinheiro as pessoas se sentem como uma criança diante de um marsmallow.
Ficam tentadas pelo retorno rápido e ínfimo de aplicações conservadoras, mesmo sabendo que o dinheiro só será usado no longo prazo (20, 25 anos).
Tem uma enorme aversão ao risco e não suportam perder algo no curto prazo, falaremos mais disso adiante.
Os que são vitimas do cérebro preguiçoso colocam rapidamente esse dinheiro na poupança ou no fundo de previdência do gerente do banco.
Os que tem autocontrole e autodisciplina estudam e buscam alternativas melhores para o longo prazo.
Na próxima vez que tomar uma decisão financeira observe se ela foi tomada de forma rápida e preguiçosa ou se foi paciente.
Finanças Comportamentais – Memória associativa
Kahneman cita a memória associativa como uma das peças chave dentro das finanças comportamentais. Para o bem e para o mal.
Vimos um pouco acima que o nosso cérebro mamífero trabalha com conexões (boas ou ruins), e que as mesmas exercem enorme influência em nosso comportamento.
Desde a adolescência até seus primeiros dias de adulto, meu melhor amigo mantinha fotos de dinheiro e uma Ferrari na porta de seu armário.
Era o “sonho dele”. Quando os duros dias do vestibular passando por estágios que não pagavam nada, o que levanta a moral dele e o motivava ir adiante eram justamente essas fotos.
Esse amigo não chegou a comprar uma Ferrari mas posso afirmar que se tornou uma pessoa de sucesso, tanto financeiramente quanto na carreira.
Ter fotos de dinheiro, carros, casas, e de outros objetos desejáveis por perto fazem com que você, de forma inconsciente, passe a ter mais zelo pelo seu dinheiro e interesse pelos investimentos.
Quem me acompanha há um tempo perceberá que em várias artigos escritos aqui no blog há essas fotos mencionadas acima.
Essas fotos tem o papel de manter o leitor atento ao que esta sendo escrito, pois, de forma inconsciente, ajudam a associar o conteúdo (artigo) a um crescimento (ou zelo) financeiro.
Se eu colocasse fotos de paisagens ou outras coisas não relacionadas ao conteúdo o leitor facilmente perderia a atenção.
Por outro lado, os departamentos de marketing das empresas estão sempre tentado “aguçar” sua memória associativa.
Desde uma mulher recebendo flores devido ao desodorante até a famosa associação entre mulheres bonitas e cerveja, a criatividade dos marqueteiros não parece ter fim.
Você pode não gostar da cerveja acima, mas se você ver este comercial e depois um amigo lhe oferecer a mesma, dificilmente você irá rejeitá-la (pelo menos até ter lido este artigo).
Finanças Comportamentais – Conforto Cognitivo
Os estudos de Kahneman mostraram que, um problema de matemática escrito com clareza, perfeita grafia, num papel com textura e contraste perfeito tende a ser resolvido mais facilmente que o mesmo problema mal escrito, num papel amassado com “garranchos”.
Esse é um exemplo do efeito do “conforto cognitivo”. Para quem é de fora da psicologia, as duas palavras podem confundir, mas, através de exemplos de situações do nosso cotidiano (como feito acima), fica mais fácil entender.
Tomo aqui a liberdade de lhe colocar um cenário fazendo uma pergunta no final.
Suponha que você tenha recebido um dinheiro e irá investí-lo num banco. Você se dirige a agência do mesmo e aguarda 1 hora para ser atendido, quando finalmente o gerente lhe atende o faz de forma desinteressada passando logo os produtos que estão disponíveis.
Você se interessa por um fundo de previdência e indaga o gerente mais detalhes e você descobre que o fundo tem taxa de administração de 1% ao mês.
Você se dirige a um outro banco com uma agência perto da primeira. Neste você é convidado a esperar num sofá confortável, o atendente lhe oferece água, café, capuccino, etc.
Em 10 minutos o gerente lhe atende, conversa com você, pergunta quais são seus objetivos para com o investimento. Traça o seu perfil de risco. Você fica maravilhado com a atenção recebida pelo mesmo, mas, no final das contas, ele lhe oferece um fundo de previdência similar ao que o primeiro gerente ofereceu.
A diferença é que o segundo fundo de previdência tem uma taxa de administração de 2%, os Alunos da capacitação Segredos da Previdência (clique aqui para conhecer) tem uma exata noção do “estrago” que uma diferença dessas faz no longo prazo.
A pergunta é: Em qual dos dois fundos você investiria seu dinheiro?
A resposta óbvia seria o primeiro fundo, mas, pode acreditar, uma boa parte das pessoas acabaria por investir no fundo 2 e isso é por conta do conforto cognitivo.
O “ambiente” criado pelo segundo banco nos deixa bastante confortáveis e confiantes a optar por ele. Inclusive podemos, sem que ninguém tenha dito nada, “acreditar” que o segundo banco tem menos risco que o do primeiro.
Então, na hora de tomar uma decisão, é importante ter a consciência que o ambiente está influenciando na mesma e o “quanto” isso é importante para você.
Finanças Comportamentais – Normas e Causas
O estudo de Normas e Causas não é exatamente difícil de entender, no entanto, sua aplicação no mundo das finanças comportamentais é mais avançada. Dominar esse comportamento é a ponte que leva um investidor amador a se tornar um profissional.
Vamos começar falando das normas, quando algum evento, seja lá qual for (doença, crise no casamento, perda de emprego, bolsa caindo 20%, etc.) acontece, você tende ficar “estupefato” com o ocorrido.
Já quando este evento acontece novamente, o engraçado é que você não parece tão surpreso. O seu cérebro criou uma “norma” e um “script” para lidar com esse evento.
Contarei uma história para exemplificar. Eu tenho um carro que apresentou um defeito na direção elétrica, fiquei realmente aborrecido com o ocorrido.
Após análise descobri que o fusível que protegia o sistema havia queimado. Troquei-o e a direção voltou a funcionar.
Dois meses depois o problema na direção voltou a ocorrer, desta vez não fiquei aborrecido ou assustado, já sabia exatamente o que ocorreu e como resolver, ou seja, meu cérebro já havia criado uma “norma”.
Esse comportamento cerebral, ainda que sirva bem em algumas situações, pode nos trazer problemas.
Voltando ao exemplo acima, a função de um fusível é “proteger” o sistema. Quando ele queima pela primeira vez, pode ser algo circunstancial e sua troca é a solução imediata.
Já quando queima pela segunda vez há indícios fortes de que algo está errado com o sistema. O problema deve ser investigado a fundo afim de se descobrir sua causa raiz.
Trazendo para o mundo dos investimentos, especificamente o investimento em ações, muitos investidores iniciantes tendem a zerar sua posição na primeira queda forte. Alguns nunca mais voltam para a bolsa.
O investidor que atinge “o próximo nível” que seria o “amador” fica assustado com a queda mas segura sua posição na esperança que tempos melhores virão.
Depois de um tempo a ação sofreu uma nova queda “pesada” , agora esse investidor não está mais assustado com a queda e continua mantendo a posição.
Mais um tempo se passa e a ação perde totalmente seu valor e o investidor finalmente abandona sua posição perdendo todo o seu investimento. O investidor “amador” pode nunca mais voltar para a bolsa.
O que aconteceu aqui é que o investidor criou uma “norma” em seu cérebro passando a acreditar que as quedas eram “normais” e que, em alguma hora, o mercado iria se recuperar.
Já o investidor profissional, ao se deparar com a situação mostrada acima, iria verificar se a empresa ainda segue os preceitos que o levaram a investir nela.
Falamos de normas, agora falaremos de causas que é exatamente o contrário. Nosso cérebro tem a tendência de buscar causas para tudo que acontece.
Quando algo de ruim acontece podemos pensar que há uma enorme “conspiração universal” contra a gente.
Especialmente o investidor iniciante que resolve comprar ações no fim de um ciclo de alta “acha” que a bolsa tem algo “pessoal” contra ele quando começa a cair.
Os sites de negócios e finanças tendem a “justificar” diariamente os movimentos da bolsa com bordões do tipo “indicador X dos EUA veio abaixo/acima do previsto”. As vezes uma mesma notícia pode ser usada para justificar a subida ou a queda da bolsa.
O mercado financeiro tem diversos participantes com interesses e objetivos diferentes, consequentemente, um conjunto de notícias não seria suficiente para explicar o movimento de uma bolsa (a não ser que a notícia seja de aviões abatendo torres em uma grande metrópole).
Nota: Para entender melhor como funciona o jogo de forças do mercado financeiro sugiro que se dedique um tempo a participar do curso gratuito de day trade (clique aqui) dos meus colegas André Hanna e André Antunes.
O comportamento financeiro correto se resume em estabelecer um equilíbrio entre normas e causas.
Num primeiro momento, não se deve ficar desesperadamente buscando motivos para um acontecimento não planejado, mas sim, mediante a repetição destes acontecimentos começar a analisar, de forma holística, toda a situação.
Finanças Comportamentais – Tomando decisões precipitadas
A Petrobrás é, talvez, uma das empresas mais queridas pelos Brasileiros. É motivo de orgulho, os Brasileiros vêem nela como a empresa que nos deu a independência energética, é exemplo de inovação e tecnologia sobretudo pela capacidade de extrair petróleo a milhares de metros abaixo do mar.
Ainda que os últimos acontecimentos e desdobramentos oriundos da operação lava jato representaram um duro golpe nessa crença, a empresa continua sendo uma importante protagonista no país.
O sonho oculto de todo investidor iniciante na bolsa é ser acionista da Petrobras. Amigos meus quando vem falar de bolsa comigo fazem a seguinte pergunta: “Está num bom momento para comprar ações na Petrobrás? A empresa vai dar lucro?”.
Há investidores que nem fazem essas simples perguntas, simplesmente compram ações da empresa. O fato de ser a maior empresa do Brasil, de já ter passado por maus bocados e ter sobrevivido já são justificativas suficientes para comprar ações da empresa.
Esse é um exemplo de como o nosso cérebro é capaz de tomar decisões precipitadas. No exemplo acima tivemos o lado 1 do cérebro completamente a frente das decisões.
O lado 2 teria feito uma avaliação da empresa (você pode ver uma avaliação neste relatório) antes de tomar uma decisão.
O efeito Halo
O efeito Halo foi uma das descobertas mais importantes da psicologia e ajuda a explicar muitas decisões tomadas.
Vamos supor que você esteja querendo comprar um carro novo para viajar com segurança com sua família.
Você vai na concessionária e se depara com um carro com design imponente e, a partir dessa avaliação decide comprá-lo.
Veja que o fato de ter um design imponente não quer dizer que seja um carro seguro. Uma análise mais profunda constatou que o carro teve notas baixas nos testes de colisão e que carece de diversos itens que aumentariam a segurança de todos os passageiros (como airbags extras e controle de estabilização).
O efeito Halo cria o que Kahneman chama de “Conexão emocional exagerada”, ou seja, ficamos tão encantados com o design do carro que esquecemos de realmente “atestar” se realmente é um carro seguro.
Você pode ler mais sobre o efeito halo em decisões de compra de carros neste excelente e-book do especialista em carros Leandro Mattera.
Finanças Comportamentais – Julgamentos
Kahenmam continuou com experimentos visando comprovar o conceito de que nosso cérebro é propenso a fazer “pré -julgamentos”.
Quando vamos comprar algo (especialmente caro) ou fazer um investimento, a pessoa que esta do outro lado deve nos passar uma imagem de conforto, austeridade e autoridade. Caso contrário torna-se imediatamente hostil ao lado 1 do cérebro.
Falamos disso um pouco acima, mas agora vamos um pouco além, pois experimentos mostraram que é bastante difícil tomar uma decisão 100% racional uma vez que o seu cérebro (sobretudo o lado 1) esteve exposto a uma situação, digamos, emocionalmente positiva.
O mesmo se aplica a situações emocionalmente negativas.
Exemplo: Suponha que você esteja considerando comprar ações da Ambev ou da Raia Drogasil e tomará essa decisão na segunda-feira.
No domingo, você foi a um churrasco na casa de um amigo e ele lhe ofereceu uma cerveja da Ambev. Aqui duas coisas hipotéticas poderiam acontecer.
1) Você degustou uma ótima cerveja “premium” da empresa (mas com moderação), teve uma ótima impressão e dormiu feliz da vida.
2) Você tomou muitas cervejas “básicas” da marca o que lhe deu uma baita “dor de cabeça”, diante deste cenário você teve que ir na farmácia comprar um analgésico para aliviar a dor, quando chegou na primeira farmácia que encontrou percebeu que era uma Drogasil.
Quando chega segunda-feira você se vê diante da decisão final, analisou os números das duas empresas viu que as duas merecem o seu investimento.
Se você passou pela situação 1 acima pensará: “A Ambev faz ótimas cervejas, se eu fiquei impressionado, milhões de outras pessoas também ficam. Vou investir nessa empresa”.
Mas, se você passou pela situação 2 pensará: “A Ambev só faz cerveja ruim, vai perder mercado, já a Drograsil sempre me salvará. Vou investir nessa empresa”.
Perceba que a “conexão emocional” que você desenvolveu com ambas as empresas gerou um pré-julgamento que foi crucial para a tomada de decisão final.
Por outro lado, devemos estar cientes que as pessoas tem “conexões emocionais” diversas com empresas e devemos estar atentos na hora de investir.
Questões como “Essa empresa é querida pelo público?” devem ser feitas no âmbito de uma decisão final de investimento, eu falo um pouco mais sobre isso neste artigo sobre as regras de Pete Lynch para investimento em ações.
Finanças Comportamentais – Resumo e Dicas
Esse definitivamente foi um dos maiores artigos já escritos aqui no blog. Convido o leitor a voltar e ler este artigo novamente afim de recuperar insights poderosos que podem impactar sua vida financeira daqui para frente.
Se tiver tempo e disposição, vale também a pena ler o livro “Rápido e Devagar” do Daniel Kahneman para expansão deste conteúdo ( o que esta escrito aqui representa 25% do livro!).
Concluindo, neste artigo aprendemos que:
- O cérebro tem 2 lados, um mais emocional e intuitivo, e outro mais racional, ao tomar uma decisão financeira perceba se os dois lados “foram consultados”.
- Não tome decisões financeiras com a “cabeça cheia” ou em situações de estresse, respire e clareie a mente.
- Tenha consciência do ambiente em que você está e como ele está impactando sua decisão. procure tomar suas decisões em ambientes neutros (como em casa).
- Não ache que o mundo conspira contra ou a favor de você. Estude e tome suas decisões fundamentadas em suas crenças e objetivos. Entre no jogo, não fique assistindo ele.
- Não julgue algo só pela primeira impressão, vá a fundo, estude todos os pontos.
Um abraço e até a próxima!
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