Growth Investing – Introdução
O Investimento em Valor ou “Value Investing”, utilizado pelo multi-bilionário Warren Buffett para investimento em ações, pode ser considerado o mais popular entre os métodos de acumulação de patrimônio.
Este fantástico método segue premissas muito simples, do tipo comprar, por 50 centavos, algo que vale um dólar.
No entanto, o método não é perfeito. Inclusive pode trazer várias decepções para um investidor “afobado”.
Afinal, resultados passados podem indicar, mas não “cravam” desempenhos futuros.
Henrique Bredda, gestor do fundo Alaska (um dos mais prósperos do Brasil) recentemente, num tweet, resumiu bem este sentimento:
“Quando se investe, é o futuro que importa. O passado dá uma pista, mas pode enganar. “High quality” no ano passado não necessariamente quer dizer “high quality” no ano que vem.
Henrique Bredda
O Caso Eternit
Um exemplo claro disso é a empresa Eternit (ETER3), no final de 2014, seus indicadores fundamentalistas estavam ótimos, estava “uma pechincha” na Bovespa. Certamente os investidores em valor estavam de olho nela.
Para incluir uma cereja no bolo, Luis Barsi, um dos maiores investidores “pessoa física” do Brasil era acionista “pesado” dela.
No entanto, o que seu viu, a partir de 2015, foi uma queda brusca do valor de suas ações como você pode ver neste gráfico cedido pelo nosso parceiro Guiainvest (link).

Para ser mais específico, as ações da Eternit estavam cotadas no final de 2014 a R$ 2,92 e pareciam baratas, mas hoje elas valem R$ 0,46 , ou seja, quem investiu R$ 3.000,00 na empresa hoje teria por volta de R$ 500,00!
No começo de 2015 perguntei para um amigo meu se a Eternit não era uma oportunidade dado que estava barata e ele me disse: “O problema é o Amianto”.
Resumindo, boa parte das vendas da Eternit era de produtos (telhas e caixas d’água) que utilizavam um produto supostamente tóxico, o Amianto.
Não vou entrar nos detalhes mas vou colocar no final do artigo alguns links para reportagens sobre o malefícios e até um artigo onde a empresa se defende.
A empresa tentou “empurrar” o problema com a barriga o máximo que pode, quando poderia ter sido mais transparente com seus acionistas e chegado a soluções que garantissem a sustentabilidade da mesma.
Tiago Reis, um dos sócios de uma casa de análises chamada Suno Research expõe neste post do facebook alguns dos problemas de governança da empresa.
O Caso Magazine Luiza
Enquanto a Eternit definhava, uma empresa de outro setor, a Magazine Luiza, começava a “decolar” como você pode ver neste gráfico cedido pelo Guiainvest.

Infelizmente, nenhuma análise de “Value Investing” diria que as ações da Magazine Luíza estavam “baratas” no final de 2015 e, consequentemente, recomendariam compra. Pelos números, a empresa parecia “no fundo do poço”.
Nem com a virada dos resultados no final de 2016 as minhas planilhas de análise basadas em “Value Investing” mostravam um cenário de compra. No entanto, os preços continuavam a subir como um foguete.
Passava longe dos números da empresa o fato que a empresa estava começando a implantar (entre outras melhorias) a estratégia de utilização do “Marketplace” (uma das estratégias que levou a Amazon a ser o que é hoje).
No final de 2015 as ações da Magazine Luiza estavam cotadas a R$ 2,18 , e, um ano depois já estavam valendo R$ 13,11.
Se tivesse investido R$ 3.000,00 em ações da Magazine Luiza no final de 2015, poderia estar hoje com aproximadamente R$ 150.000,00! Uma baita valorização.
Growth Investing – Encontrando empresas com potencial de valorização

Se o método de Investimento em Valor (Value Investing) não é infalível, então como Warren Buffett, que é o maior expoente desta metodologia, teve tanto sucesso?
O livro A Bola de Neve (clique aqui para cohecer), que é mais ou menos uma “bibliografia” de Warren, mostra que o mesmo fez diversos investimentos nem sempre 100% alinhados com o preceitos do seu mento Benjamim Graham que foi o “pai” do Value Investing.
Warren, ao longo da vida, recebeu ótimas influencias do seu principal sócio Charlie Munger e de outros investidores como o Philip Fisher.
Philip Fisher é um dos principais expoentes do método chamado “Growth Investing” que aposta no crescimento as empresas ao longo do tempo para a geração de riqueza no mercado de ações.
Na capa de seu icônico livro “Common Stocks And Uncommon Profits” tem uma mensagem de Warren com o seguinte:
“Sou um leitor assíduo do Phil e recomendo ele a você.
O que Philip Fisher trouxe de novo que chamou a atenção do maior investidor de todos os tempos?
Principalmente foi observar além dos números das empresas. Itens como inovação, “cultura vencedora” de seus líderes e capacidade de crescer são levados em consideração.
São características intangíveis que não estão propriamente especificadas nos balanços.
Isso não significa que ele não observa cuidadosamente os balanços de empresas, inclusive porque os mesmos escondem diversos aspectos comportamentais da liderança que serão relevantes para os futuros resultados.
Enquanto o investidor em valor (value investor) procura pagar 50 centavos por uma empresa que vale 1 dólar, o investidor em Crescimento (growth investor) pensa diferente.
O segundo admite investir 2 dólares por uma empresa que tem o valor contábil de 1 dólar, mas com um potencial de crescimento que pode fazê-la valer, por exemplo, 10 dólares no longo prazo.
Empresas Brasileiras como Ambev, Raia Drogasil e Lojas Renner nunca foram “baratas” do ponto de vista do investimento em valor.
No entanto, trouxeram resultados formidáveis ao longo do tempo para seus acionistas justamente por conterem características e comportamentos que resultam em crescimento.
Growth Investing – Os itens para observar em uma empresa listada na bolsa.
Este é o primeiro de uma série de 3 artigos onde listaremos 15 itens que Philip Fisher observa em uma empresa para ser sócio.
Esse artigo será dividido em 3 partes principalmente porque podemos dividir os 15 itens acima em 3 grupos:
- Produtos, Pesquisa e Vendas;
- Margens e Pessoas;
- Controles e Ética.
Incluirei, na medida do possível, alguns exemplos de empresas para esclarecer mais ainda o item em questão.
Item 1 – Produtos e Serviços extraordinários

A empresa tem produtos e serviços com potencial de mercado suficiente para subsidiar um incremento das vendas relevante nos próximos anos?
As vezes compramos uma ação baseada na opinião de um analista, mas você parou para estudar essa empresa? Ver o que ela produz, para quem? O produto tem a tendência de crescimento do consumo ao longo dos anos?
Tomemos o caso da Ambev, que é uma fabricante de bebidas (principalmente Cervejas e Refrigerantes). Em 2016 adquiriu uma promissora fábrica de sucos (veja mais aqui) incorporando esse produto ao seu portfolio.
Além disso, vem fazendo um trabalho de inclusão de cervejas especiais (sobretudo através da aquisição de microcervejarias) ao seu rol de produtos.
Agora responda essa pergunta, com um potencial crescimento populacional e econômico, a Ambev estaria capacitada para ter igual variação positiva de suas vendas?
Item 2 – Busca de novos produtos
A corpo gerencial da empresa está determinada a buscar/criar produtos e processos que resultem no aumento das vendas?
Essa questão é crítica na sobrevivência de uma empresa, temos empresas que mesmo vendendo produtos de qualidade ou provendo serviços de excelência quebraram.
Não basta ter o melhor produto. Os requisitos mudam, a regulamentação muda, os preços também.
A empresa está preparada para duplicar a produção de um determinado produto sem impactar na qualidade? Mudar o produto devido a uma mudança de regulamentação mantendo-o lucrativo?
Tomemos nosso exemplo anterior, a Ambev. Se entrarmos no site de relacionamento com investidores da empresa (link), temos acesso a uma apresentação institucional que dá um resumo da mesma e de suas iniciativas.
No documento podemos perceber a preocupação da empresa com a criação de novos produtos de tal forma a se posicionar de forma competitiva no mercado.
Apesar de ricas, as informações são da própria empresa e carecem de um senso crítico, pois, dificilmente veremos “falar mal de si mesma”.
A empresa falará de “desafios”, mas sempre ressaltará seus pontos fortes.
Por conta do citado acima, é importante buscarmos opiniões independentes sobre a empresa para podermos fazer nosso juízo.
Casas independentes de análise de investimentos (Suno Research, Empíricus, Eleven Fianancial) e bancos geralmente soltam relatórios sugerindo compra, manutenção ou venda dos papéis das empresas listadas na bolsa.
Como investidores independentes, devemos tomar nossas próprias decisões, mas o conteúdo desses relatórios é bastante útil para descobrirmos um pouco como pensam os gestores de determinada empresa, já que, por sermos “pequenos”, teremos dificuldades em ter “um acesso” direto a eles.
Item 3 – Pesquisa e Desenvolvimento

Quais são os esforços de pesquisa e desenvolvimento em relação ao tamanho da empresa?
Pense nas empresas mais valiosas do mercado hoje e o quanto elas investem em pesquisa e desenvolvimento.
Uma delas é a Apple em cujo um dos produtos (um Macbook) escrevo este artigo.
Por muitos anos ela nem distribuiu dividendos, preferiu investir o caixa na empresa e, principalmente, desenvolvendo novas tecnologias.
No entanto, este é um item bastante difícil de avaliar, se olharmos superficialmente um balanço não descobriremos aonde estas despesas estão.
Além disso, há despesas de pesquisa e desenvolvimento que podem estar em diversas linhas.
Uma das maneiras é comparando uma empresa com seus “pares” no setor.
No Brasil, às vezes, não temos como fazer tal comparação, pois, nem todas as empresas estão listadas na bolsa nos restando, neste caso, realizar uma análise qualitativa.
Novamente, os relatórios das casas de investimento podem ajudar.
Alguns itens a observar.
Para se ter noção dos gastos em pesquisa e desenvolvimento de uma empresa devemos observar alguns itens.
1) Observar o CAPEX, esse é o gasto da empresa em intangíveis e imobilizado. É possível vê-lo no demonstrativo de fluxo de caixa livre da empresa.
2) Observar o relatório anual da empresa, onde ela mostrará suas iniciativas.
Finalmente, tomemos nosso exemplo, a Ambev.
Se você coloca no google “Ambev – Pesquisa e Desenvolvimento”, poderá ver notícias sobre ações da empresa como, por exemplo, o lançamento (link) e ampliação (link) de um centro de pesquisas na ilha do fundão no Rio de Janeiro.
Da mesma forma podemos fazer o mesmo para os concorrentes da Ambev e ver se estão fazendo o mesmo.
Item 4 – Estrutura de Vendas

Como é a estrutura de vendas da empresa?
Uma empresa pode ter uma linha de produtos de alto nível, fazer propagandas formidáveis na televisão, ou até patrocinar uma equipe de futebol com ótima visibilidade nacional.
Nada disso adianta se a empresa não tiver uma rede de vendas e distribuição eficiente.
O relatório anual da empresa novamente pode ser fonte de informações preciosas.
No entanto, é muito valiosa sua percepção pessoal que pode vir se você se fizer as seguintes perguntas.
1) O quanto este produto está disponível para você?
2) Qual é a percepção dos donos de estabelecimentos em relação à disponibilidade do produto?
Realmente no caso da Ambev fica fácil fazer a análise, basta você ir a supermercados, mercados de bairro, bares e restaurantes e observar a disponibilidade do produto em relação aos concorrentes.
Pode também perguntar ao dono do bar perto da sua casa como esta a disponibilização de bebidas pela empresa.
Me lembro que, coisa de 8,9 anos atrás vários bares do centro do Rio pararam de servir chopp Brahma e passaram a oferecer chopp Sol.
Na época (muitos) disseram que a Femsa (Dona da Sol) estava entrado agressivamente no mercado oferecendo vantagens aos bares que passassem a comercializar a cerveja.
Conversando com alguns donos descobriríamos que a Ambev estava, na época, com várias falhas na distribuição a ponto de um bar não ter cerveja suficiente para uma sexta a noite.
Eventualmente esse tema foi devidamente corrigido pela empresa, mas fica como exemplo de uma das análises que podem ser feita.
Este mesmo exercício pode aplicado para outras empresas. Verifique se há Lojas Renner num shopping perto de sua casa, se a loja de auto peças perto de sua casa tem pastilhas de freio da Fras-Le, ou se há muitos ônibus da Marcopolo circulando na sua cidade.
O Fator RH
Falaremos mais detalhadamente de RH no próximo artigo, mas saber como a empresa atua em seu RH é fundamental para descobrir se a equipe de vendas está sendo bem treinada, sobretudo, no que tange a cultura da empresa.
Uma equipe bem treinada e motivada é um alicerce fundamental para o desempenho (sobretudo na parte de vendas) da empresa.
Novamente um relatório anual da empresa ou até a tradicional revista Maiores e Melhores da Exame podem ajudar a descobrir pontos fortes e fracos.
Growth Investing – Conclusão
Neste artigo vimos que para identificar uma empresa vencedora temos que ir além dos balanços, temos que entender os produtos que as mesmas fazem, os que serão desenvolvidos no futuro e se ela está preparada para vendê-los.
No próximo artigo iremos uma pouco mais fundo nas questões de RH e sim, olharemos um pouco no balanço.
Um Abraço!
Christian
Referências sobre amianto
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