Introdução
É sujeita a extensa análise e discussão os efeitos da variação da taxa de juros na performance do mercado de renda variável, se pensarmos de uma forma simples podemos atestar que, a medida que a taxa de juros cai, o apetite do investidor por renda variável aumenta pois precisará diversificar seus investimentos e tomar mais risco afim de manter a rentabilidade desejada. Para termos uma ideia, nos anos 90, a bolsa não era atrativa para a maioria dos investidores pois com a taxa de juros na casa dos 30,40 até 80% ao ano, era muito mais seguro ficar na renda fixa sem muito risco do que se aventurar no mercado de renda variável, pois imagine agora com a taxa de juros em 7,5% ao ano. A farra dos ganhos fáceis acabou. No entanto, uma pergunta surge, será que a redução da taxa de juros gera um aumento da procura por ativos de renda variável ?
O efeito da queda das taxas de juros na economia
O efeito natural da queda taxa de juros na economia deveria ser o crescimento da mesma, afinal a redução da taxa iria baratear o crédito permitindo o aumento do consumo e o aumento dos investimentos das empresas, aumento do emprego e renda pois os investimentos mudariam para ativos geradores de emprego. Um exemplo é o aumento da demanda de imóveis com a queda das taxas de juros o que aumenta o emprego pois é um setor de mão de obra extensivo, por outro lado o aumento na demanda por títulos públicos (quando a taxa de juros sobe) não aumenta o emprego. Concluindo de forma simplificada, o crescimento da economia significa que as empresas cresceram, consequentemente o valor das mesmas cresceu o que geraria um aumento nos preços das mesmas na bolsa.
Correlação SELIC x IBOVESPA
Observem o gráfico abaixo que mostra a variação da taxa SELIC vs a variação do índice Ibovespa.
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Para não fazer um estudo matemático complicado tentando correlacionar os dois identifiquei 6 momentos e vamos fazer observações sobre cada um.
Momento 1 – Plano real: Para “matar” a inflação, a dose do remédio foi equivalente a uma quimioterapia, taxas de juros de até 80% foram registradas, com esse dinheiro fácil, o investidor não se interessava muito pela bolsa, ainda assim o índice subiu a medida que o governo foi baixando as taxas, notou-se uma que houve uma correlação negativa nesse período (taxa caiu, bolsa subiu)
Momento 2 – Crise Russa e Asiática: O Governo subiu (e reduziu) as taxas e o índice sofreu certa volatilidade também muito pela insegurança gerada naquela época, de certa forma podemos observar uma correlação negativa nessa época também ainda que não é uma correlação muito boa, pois, durante uma crise há muita especulação gerando muita volatilidade nos mercados.
Momento 4 – Crescimento: Com a economia estabilizada e o aumento nos preços das commodities além do mundo estar mais “calmo”, o governo vai baixando a taxas de juros,a economia vai crescendo, a bolsa reflete esse movimento e sobe forte. Voltamos a ter uma correlação negativa.
Momento 5 – Crise de 2008: Mesmo com um ciclo de elevação das taxas de juros em 2007 e 2008, a crise dos “subprimes” fez a economia brasileira desacelerar novamente fazendo com que o banco central voltasse a reduzir as taxas de juros, não podemos correlacionar a queda da bolsa em 2008 com esse aumento na taxa de juros porque a queda da bolsa foi muito maior.
Momento 6 – Pós-crise até os dias de hoje: É muito mais interessante a análise pós-crise, depois que , em 2009, a bolsa voltou mais ou menos aos patamares anteriores a crise de 2008, o que se viu foi , mesmo com o governo continuando a baixar as taxas de juros, a bolsa se mantendo estável ou em queda. Essa correlação positiva (taxa de juros cai, bolsa cai) só havia sido vista em 2002 e 2003 por conta da instabilidade político/econômica da época. Agora que o Brasil está relativamente tranquilo do ponto de vista político (afinal temos a crença que este e futuros governos irão honrar contratos, etc…) aparece essa correlação positiva novamente? O que mudou? Qual é a expectativa para o futuro?
O Esgotamento do modelo
Uma tese que muitos economistas defendem (e eu concordo) é que os efeitos da queda da taxa de juros no crescimento da economia já chegaram ao seu limite, ou seja, não adianta mais utilizar este instrumento para fazer a economia crescer. Sem as mudanças estruturais (Reforma Tributária e redução da burocracia entre outras), o investimento pesado em infraestrutura (Ferrovias, Rodovias, Portos, etc…) e a capacitação de nossa população (educação) não temo como aumentar a produtividade e crescer de forma sustentável. Dizem alguns analistas que a bolsa costuma antecipar os movimentos de nossa economia (isso será objeto de outro estudo), significa então , por essa lógica, que nossa economia irá patinar durante algum tempo.
Conclusão
Já foi o tempo que a queda na taxa de juros significava “correr para a bolsa”, agora o investidor terá que ser mais criativo e perspicaz na hora de montar suas carteiras, investindo em empresas que principalmente tem ,em seu DNA, a constante busca pela geração de valor ao acionista e aumento da produtividade. Neste contexto recomendo a leitura do manual do pequeno investidor que ensinará ao leitor, sobretudo, como encontrar boas empresas para investir.
Bons Negócios!
Defenda seu dinheiro diz
Infelizmente após a selic cair para o valor mais baixo meses atrás, agora subiu um pouco e ainda está em patamares baixo, o dinheiro da RF não veio em massa para RV …. o governo que tem mudado as regras do jogo toda hora para diversos setores tem afugentado fortemente diversos investidores!!
Um vexame petralhaaaa!!
Abraço
Parabéns pelo post.
http://defendaseudinheiro.com.br/selic-subiu-so-025-e-agora-jose/
Bizz Invest diz
Obrigado!
Um abraço!
Lorran diz
Segundo o gréfico, podemos dizer que quando a selic sobe o ibov cai e vice – versa.
Bizz Invest diz
Olá Lorran!
Na maioria das vezes sim. Mas há alguma situações que essa correlação “falha”. Em 2003, havia uma desconfiança sobre quais rumos o governo tomaria. Quando o governo tomou uma posição austera subindo a taxa de juros essa desconfiança sumiu e a bolsa subiu mesmo com a subida da taxa de juros.
Em 2012 e 2013 a bolsa andou de lado mesmo com a queda dos juros mostrando a volta da desconfiança do mercado com relação a agenda governamental. Desconfiança essa que foi acertada tendo vista o que aconteceu depois.
Obrigado!
Christian