Definitivamente foi o assunto do dia de ontem, mais uma forte queda da OGX e o fechamento da cotação abaixo dos 2,00 o que representa uma perda de mais de 80% em relação ao seu preço de IPO. Milhares de investidores que apostaram na empresa e principalmente na figura de seu dono Eike Batista estão sofrendo com a derrocada do valor das ações. O que podemos aprender com isso?
Pré Operacional versus Operacional
O ciclo de vida de uma empresa tem têm duas fases: Pré-operacional e Operacional. Na primeira, os ativos e a estrutura da empresa não estão prontos para gerar receita, o momento é de investimentos. Há setores como o de petróleo em que esta fase é extensa e realmente leva tempo para a empresa começar a gerar receita e andar com as próprias pernas. A incerteza é alta nessa fase, não sabemos realmente se a empresa vai conseguir se estabelecer. Já na segunda há uma estrutura definida e os ativos da mesma tem capacidade de gerar receitas ainda que isso não signifique que irá gerar caixa ou lucro.
Quando uma empresa “pré-operacional” faz um IPO, ou seja, capta dinheiro no mercado, o faz literalmente para “se construir”, o preço pago neste ato é muito mais baseado mais numa expectativa do que a empresa possa vir a ser no futuro do que no valor real de seus ativos. Já uma empresa operacional faz um IPO para, entre outros motivos, levantar fundos para um plano de expansão ou porque o(s) dono(s) não está conseguindo estabelecer um plano de sucessão satisfatório e abre o capital para empregar melhores práticas de governança corporativa, transparência, etc.. De qualquer forma o peso da “expectativa futura” no preço da ação numa empresa operacional (apesar de relevante) é menor do que numa empresa pré-operacional.
História – O começo promissor da OGX
A OGX estreou na bolsa com pompas para seu principal acionista Eike Batista que aparece na revista Veja como o novo bilionário brasileiro. Logo tomou o primeiro baque com a crise dos subprime em 2008 que derrubou os mercados globais, mas se recuperou prontamente (chegou a 23,39 no dia 14/10/2010) na esteira do aumento do preço do petróleo e das boas taxas de acerto nas descobertas.
A frase que escutamos na Formula 1 “Chegar é uma coisa, passar é outra” pode se aplicar no mundo das empresas pré-operacionais de petróleo. Uma coisa é descobrir petróleo no fundo do mar, outra é conseguir produzir em escala comercial para gerar caixa suficiente para cobrir os custos. O mercado começou (mesmo que, num primeiro momento, de forma especulativa) a questionar a capacidade operacional da OGX muito por causa dos maus números que sua prima MMX estava apresentando. Vejamos, o Eike Batista veio da mineração, e sua empresa do ramo não está indo bem, o que diríamos de uma empresa que não é do ramo original dele. Essa especulação já foi o suficiente para derrubar o preço das ações.
Em 2012 os primeiros números operacionais vieram e foram bastante desanimadores, havia uma expectativa inicial de produção de 50000 Barris por dia, e o resultado foi abaixo de 10000. O mercado se decepcionou e as ações desabaram. O CEO da empresa caiu e a empresa passou a ser vista com extrema desconfiança (todas as empresas X sofreram). Chegamos ao ano de 2013 e os números decepcionam de novo com uma produção de 5000 Barris por dia. Para termos uma idéia há alguns poços maduros da Petrobrás (com mais de 40 anos de idade) que produzem isso. A desconfiança ficou escancarada e o medo agora é que o caixa da empresa não consiga sustenta os planos de investimento.
OGX e a análise fundamentalista é técnica.
Investir na OGX baseado nos ensinamentos da análise fundamentalista (metodologia que baliza o investimento “Buy and Hold” onde você realmente vira sócio da empresa) é muito difícil pois alguns indicadores importantes da análise fundamentalista (Lucro, Margens, P/L) não podem ser apurados corretamente num empresa pré-operacional, assim sendo, as decisões ficam muito focadas no preço do petróleo, na comparação com empresas geridas pelo mesmo grupo e no andamento dos projetos.
Já na Análise técnica o trader disciplinado foi muito feliz com a OGX, pois a mesma produziu ao longo de sua vida excelentes movimentos direcionais, no entanto, muitos traders perderam com a OGX, pois não encerram suas posições no momento certo.
Conclusão
Não sabemos se a OGX vai se recuperar, há casos de empresas que se recuperaram mas para o investidor/trader a mensagem é clara:
1 – Se você é um investidor do tipo Buy and Hold (que vira sócio da empresa e acumula ações ao longo do tempo) procure ficar de fora (ou aloque capital pequeno) em empresas pré-operacionais onde o grau de incerteza é alto. Os indicadores da Análise Fundamentalista ainda não podem medir com precisão a empresa. Há várias empresas boas merecedoras do seu dinheiro.
2 – Se você usa análise técnica, respeite sua estratégia e o STOP LOSS, nos gráficos de longo prazo a OGX já deu saída há muito tempo.
“Pela Análise técnica você já teria saído há muito tempo, pelo Buy and Hold você não teria nem entrado…”
Um Abraço,
Christian
Fabio diz
Ótima matéria.
bizzconsulting1 diz
Obrigado Fábio!
Defenda seu dinheiro diz
Perfeito, isto aí!
Abraço
dimarcinho diz
Excelente texto. Olhar os números da OGX já era suficiente, mas minha maior desconfiança mesmo sempre foi neste ponto que vc mencionou:
“Vejamos, o Eike Batista veio da mineração, e sua empresa do ramo não está indo bem, o que diríamos de uma empresa que não é do ramo original dele.”
Isso é pra ficar com os dois pés atrás, né???
[]s!