Introdução
Há 6 meses escrevi um dos melhores textos deste blog, nesse fiz um breve resumo do apogeu ao colapso da OGX Petróleo, na época, as ações da empresa eram negociadas a R$ 2,00 depois de terem atingido uma máxima por volta de 23,00. Hoje as ações estão valendo R$ 0,42 e a empresa está considerando a hipótese de recorrer a um recuperação judicial para continuar operando. Mas o que causou um recente Frenesi nas redes sociais e no mercado financeiro em geral foi uma um entrevista (leia aqui) concedida ao renomado Wall Street Journal pelo controlador do grupo Eike Batista onde ele dá os motivos para a derrocada da OGX e de seu conglomerado em geral. Gostaria de comentar um pouco sobre dois trechos da entrevista que me chamaram a atenção.
“Não sou especialista em Petróleo”
Em meu texto original (leia na integra aqui) teve uma citação que considero bastante importante para comentarmos em cima da entrevista dada recentemente.
“O mercado começou (mesmo que, num primeiro momento, de forma especulativa) a questionar a capacidade operacional da OGX muito por causa dos maus números que sua prima MMX estava apresentando. Vejamos, o Eike Batista veio da mineração, e sua empresa do ramo não está indo bem, o que diríamos de uma empresa que não é do ramo original dele. Essa especulação já foi o suficiente para derrubar o preço das ações.”
Há muito tempo atrás o mercado já se preocupava com fato de Eike não mostrar habilidades administrativas e não conhecer muito da indústria que estava se metendo. Para minha surpresa ele acaba admitindo essa falha na recente entrevista.
Eike diz que se sente à vontade para culpar os gestores da OGX, já que, como um executivo do setor de mineração, ele não tinha conhecimentos da indústria de petróleo para questionar os relatórios que eles apresentavam.
“Sou dono de um grande grupo. Eu sozinho não posso fazer isso. Eu poderia ser o dono de um hospital, mas sem 50 cirurgiões das suas respectivas áreas você não é nada. Não tenho o conhecimento específico. Você não pediria ao dono de um hospital para operar o seu rim”, disse.”
Ou seja, Eike se sentiu bem a vontade de culpar sua falta de conhecimento da indústria petrolífera seus gestores pelo fracasso da empresa. Um dos maiores erros de gestão, na minha humilde opinião, é não assumir para si a responsabilidade de um fracasso. Mas o “pior” da entrevista ainda está por vir…
O “mapa astral” não estava favorável
Incrédulo, você pode estar se perguntando “Ele falou mesmo isso?”, a resposta é sim! Reproduzo aqui parte da entrevista.
Batista acredita em sorte e superstições. “Se você olhar para o meu mapa astral, esse período não foi favorável para mim”, disse. “A boa fase? Ela já começou, literalmente, este mês.”
Não estou querendo debater aqui se astrologia funciona ou não. Mas, mesmo que de forma limitada, responsabilizá-la por um prejuízo bilionário foge do que podemos considerar sensato, imagine se vamos olhar para os astros e perguntar vossa opinião antes de furar um poço de R$ 100 milhões. Outro raciocínio, se o “mapa” estava ruim porque então criou a empresa e tomou bilhões de um bem-intencionado mercado que incluiu entre muitos, um investidor mencionado nesta reportagem? P.S: Não vou entrar no detalhe dos erros que o pequeno investidor mencionado cometeu, mas, mesmo que fosse a melhor empresa do mundo, nunca deveria ter colocado toda a poupança nela. Uma alocação de ativos adequada impediria esse trágico acontecimento.
Eike voltará como uma “Fênix”? Será?
Na reportagem Eike menciona que voltará? Afinal seu “mapa astral” agora está ótimo e, assim sendo, pode ressurgir das cinzas como uma Fênix. É possível? A verdade é que várias empresas no Brasil e nos EUA conseguiram se recuperar, não chega a ser impossível. Dois exemplos são a Hering (chegou a valer menos de 1 real e hoje vale R$ 36,00) aqui no Brasil e a Ford nos EUA (De US$ 1 para US$ 17 hoje). Essas empresas passaram por dificuldades, mas como tinham Marca, Produtos e Know-How, puderam, através de um reestruturação, se recuperar. Assim mantiveram empregos, geraram lucros para seus acionistas e beneficiaram a sociedade como um todo. O problema da OGX é que a empresa não tem história nem um corpo técnico com know-how suficiente para os desafios que a exploração 0ff-shore impõem, mesmo assim a empresa possivelmente entrará com pedido de recuperação judicial numa tentativa de se reestruturar e ainda agregar algum valor ao Brasil.
Conclusão
As empresas “X” há tempos pareciam a versão brasileira do “sonho americano” com seu líder se transformando num dos mais ricos do mundo atraindo milhares de fãs. Uma verdadeira “Eikemania” se instalou no país. A derrocada das empresas “X” não deve significar o fim de nossa esperança inovadora e empreendedora, nosso país, dadas as dificuldades históricas, é, e sempre será inclinado a pensar “fora da caixa”. Mas o que ocorreu com as empresas “X” deve ser profundamente estudado afim de se obter valiosas lições para nossos futuros empreendedores.
Já ao investidor fica a seguinte lição (além da citada anteriormente – “não invista todo seu capital em um ativo só”) dada originalmente pelo renomado escritor e investidor Peter Lynch. Não se limite a analisar os números de uma empresa, essa análise é importantíssima mas não é tudo. Pergunte a sua mulher, ao jornaleiro, ao cara da padaria, ao taxista, etc… O que elas acham da empresa, do que ela produz, de seus líderes. Qual é a percepção deles? Parece loucura mas as avezes você terá um valioso insight sobre o futuro que os números não vão lhe apresentar.
Bons Negócios!
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